sábado, 3 de agosto de 2019

Mesa sem rima

A fumaça vai levando pra dentro a luta entre desejo pela satisfação e a vontade de partir
Eu tenho minha hora
Mas não tenho relógio
Não sei ver as horas
Não sei contar o tempo
É lento
E lentamente vai me levando e me fazendo cortejar qualquer intempérie
Qualquer sorriso corrosivo
Qualquer olhar pretensioso
Qualquer coisa pra eu tomar como um bem precioso
Rimas , rimas e rimas
Não saio das rimas
Deitei os versos e quero segui-los
Quero desistir do poeta
Quero me entregar a qualquer porta aberta
Que não peça rima
Que me faça não ser
O ser que odeio ser
Que não cabe
Não cabe
Não vai
Não se
Só segue
Cordeiro
Pequeno cordeiro
Como qualquer outro
Com qualquer lã
De qualquer pastor
De qualquer feitor
Qualquer senhor
Furando bolas que caem no jardim
Qualquer imagem que esconda tudo de mim
Só cabe ser assim
Só cabe uns anos
Uns meses
O que for
Mas que não seja assim
Sentindo
Seja assim
Mentindo
Denegrindo
E apagando
Que tenha sono
Sem sonhos
Que não almeje mais do que seu chulo paladar
Nada mais do que a vida tem pra dar
Tudo do que eu não posso mudar
Livre de rimas
Com um ponto final
Em um poema qualquer
Como qualquer coisa que não seja o que se é
Sem frases de efeito
Que vibre por qualquer feito
Sem efeito pra qualquer ser
Que sejam todos importantes como é o que se tem na geladeira
Pra que se tenha numa terça ou quinta ou sexta
Que se esqueça a depressão do domingo
Que não se precise plantar pra ornamentar
Qualquer lugar sem par
Qualquer lugar que não se possa lembrar do que se é
Do que se realmente quer
Que não exista sistema e sim provedor
Que eu seja um bem feitor de tudo que é dito necessário
Porque eu tô tão cansado
De migrar entre primeira e terceira pessoa
Zero pessoa
Qualquer pessoa
Mais uma pessoa
Impessoal
Ligado ao carnal
Ligado a qualquer rede
Que seja melhor que essa existência infernal
Com músicas que só têm sentido quando se está bebado
Que seja bêbado como troféu
Sem fel
Como teu merecimento
Por mais uma semana de uma falso lamento
Sem rimas
Sem rimas, por favor
Foi-se o nefasto
Ficou o vazio
Ficou a água que deveria renovar o rio
Com moral
Bons costumes
E
O ideal
Ser leal
A luta semanal
Esquecer as plantas no quintal
Que tudo isso seja normal
Que tudo isso seja o acorde pra qualquer música que eu não vou compor
Que eu não seja nem por um segundo
O compositor
De tudo que se faz temor
De qualquer rima
Por favor
Rimas não
Só o vão rimando com a escuridão
Dessa batida em lentidão
Bons amigos, poucos inimigos e folhas vazias
Canetas pra apontamentos das contas de casa
Esquecer que não tem asa

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